terça-feira, 23 de setembro de 2008

PEQUENOS CONTOS - Por Jorge Eduardo Magalhães


Esses contos fazem parte do meu livro FAMÍLIA DE SOMBRAS 

ATENÇÃO A TODOS OS LEITORES:
LEIAM ALGUNS DE MEUS CONTOS E DEIXEM SUAS CRÍTICAS E COMENTÁRIOS. AGRADEÇO A SUA VISITA.
A filha do coração
Minha querida filha,
Chamo-te assim porque te considero como se fosse sangue do meu sangue, pois quando me casei com sua mãe você era praticamente um bebê.
Você não sabe como foi difícil, as noites acordado, ninando para te fazer dormir e ainda tinha que ouvir os comentários maliciosos dos parentes de sua mãe, “cuidado com esse homem na sua casa, você tem uma filha pequena, não deixe os dois sozinhos!”
Que mentes poluídas! Nunca tive maldade nenhuma com você! Te vi crescer, você é minha filha do coração.
Enfrentei suas dificuldades, suas febres, seus medos e seu pai biológico só aparecia nos bons momentos como aniversários, finais de semana que você esquecia completamente de mim e pulava em seus braços. Quantas vezes ao chamar tua atenção para o teu próprio bem, tive que ouvir: “Você não é o meu pai!”
Abri mão de ter meus próprios filhos, pois sua mãe não queria mais engravidar, mas tudo bem, tenho você!
Providenciei para que nada desse errado em seu casamento pra você entrar na igreja de braços dados com seu verdadeiro pai e eu fiquei como um mero convidado e no dia dos pais é com ele que você almoça e leva presentes.
Isso é só um desabafo, não sinta remorsos, não me arrependo de nada, se pudesse faria tudo outra vez.
Te amo, minha filha do coração!





O reserva
Do banco de reservas, observava o fiasco do seu time, lanterna da terceira divisão, perdendo em casa por seis a zero. O técnico, seu Joça, gritava as instruções para os jogadores em campo.
Alguém se aproximou dele e disse:
- Você não joga nada!
- Você não me viu jogando!
- Nem precisa, pra ser reserva dessa porcaria!
Sua cólera fez com que se lembrasse de um antigo sonho do início da carreira que nunca iria se realizar. Imaginava jogar num time grande e ser convocado pra seleção brasileira. E que estava jogando na final de uma Copa do Mundo realizada no Brasil contra a Argentina, o jogo estava zero a zero e aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, marcava um gol dando o título ao Brasil. Finalmente, levantava a taça com milhares de brasileiros gritando o seu nome. Despertou do sonho com o sétimo gol que seu time levou.
- Que técnico incompetente, retranqueiro – pensou, eu faria diferente.
Foi quando decidiu parar de jogar e se dedicar à carreira de técnico. Primeiro tiraria seu time do buraco e chegaria a técnico da seleção brasileira, onde numa final conta a Argentina faria uma substituição de um jogador que logo ao entrar em campo faria o único gol da partida dando o título ao Brasil, seu nome como técnico seria aclamado e...






Tudo por uma paixão

Rosana, filha de um rico empresário, conheceu Mc Caveira num baile funk do morro. Foi paixão à primeira vista, e a partir daquele dia não se desgrudavam mais, Rosana ia quase todos os dias ao morro para vê-lo.
Pertencendo a uma das famílias mais ricas da cidade, era cortejada por vários rapazes da alta sociedade, dentre eles o Ricardinho, um eterno apaixonado que não era correspondido, “parecia um maçarão sem molho”, dizia Rosana às amigas.
Tinha somente olhos para Mc Caveira e estava pronta para desafiar a tudo e a todos em nome dessa paixão. Já até imaginava qual seria a reação do seu pai quando lhe contasse tudo. “Você enlouqueceu minha filha? Você vai ficar um ano na Europa!”
Caso ele dissesse isso fugiria e seria até capaz de ir viver no morro com seu grande amor, e não seria tão ruim, pois ali respirava o amor e a sinceridade.
Foi contar tudo para o seu pai preparada para o pior, mas teve uma surpresa:
- Você é quem sabe, minha filha! Faça o que o seu coração mandar!
Não acreditava no que estava ouvindo e foi direto contar para o Mc Caveira as palavras de seu pai. Enquanto subia o morro foi percebendo a miséria do local, nem parecia aquele lugar exótico que tanto a fascinou, quando ficou frente a frente com Mc Caveira não teve coragem de beija-lo, achou-o asqueroso, repulsivo. Terminou tudo e virou de costas sem olhar pra trás.
Nunca mais voltou ao morro e uma semana depois estava feliz da vida ao lado de Ricardinho.




Trinta anos
Como o tempo passa rápido, faz trinta anos que você está comigo, sou uma pessoa privilegiada, enquanto a maioria dos filhos chega uma hora que sai de casa, você sempre aqui comigo a me observar trabalhando em meu escritório.
Lembro-me que teu parto foi prematuro, aliás, bem prematuro. Todos acharam que eu havia enlouquecido, mas não dei bola, fui em frente e você está aqui comigo há trinta anos.
Tenho pena dos pais que vêem seus filhos crescendo e deixando-os sozinhos, ainda bem que você não é assim, está sempre aqui no meu escritório, não cresce, não envelhece, dentro deste vidro com formol.




O jurista
O jurista Isidoro era o terror dos policiais arbitrários, bastava dar um peteleco num marginal que ele execrava “Um absurdo, uma arbitrariedade”, resmungava.
Respeitado por uns, odiado por outros, dizia-se um ferrenho defensor dos direitos humanos e tinha vários livros publicados sobre o assunto e defendia a tese que o bandido era uma vítima da sociedade.
Quando era levantada a discussão sobre aumentar a pena ou diminuir a idade penal para crimes hediondos, era radicalmente contra: “Não é punindo que melhoramos a sociedade e sim educando, resgatando.”
Certa vez ocorreu um crime bárbaro, um casal oi brutalmente assassinado por um menor e Isidoro foi imediatamente dar assistência ao assassino, preocupado com o seu bem-estar e sua estrutura psicológica, ignorando as famílias das vítimas.
Uma noite recebeu um telefonema, seu único filho havia sido assaltado e espancado por três menores. Correu para a delegacia. Ao ver o filho arrebentado e os assaltantes presos, teve que ser contido pelos policiais da delegacia para não espanca-los.





Amor virtual
Patrícia conversava há cerca de um mês com um rapaz que conhecera numa sala de bate-papo na internet. Ele dizia ter dezoito anos e ser estudante de direito. Apaixonou-se de cara pelo seu discurso, tão maduro para a sua idade. “Ele é lindo”, suspirou ao ver sua foto.
Nos seus quinze anos não agüentava mais as constantes brigas de seus pais, e Maurício, seu namorado virtual, era seu confidente, sua válvula de escape, ficava horas diante do computador desabafando suas tristezas e lamúrias. Maurício lhe escrevia palavras confortadoras que deixava seu coração mais leve.
Na sua ansiedade adolescente, Patrícia não via a hora de conhecer seu amor pessoalmente. Ele relutou, disse que ainda não era o momento, mas ela insistiu sob a ameaça de terminar tudo e ele aceitou.
Marcaram o encontro na praça de alimentação de um shopping. Ela chegou primeiro e ficou esperando-o sentada à mesa. Aguardou impaciente, já estava atrasado há quase meia hora e quando pensava em ir embora teve uma surpresa.
- Oi Patrícia!
- Oi tio Raul! – disse ao pai de uma de suas colegas que sentou à sua mesa.
- O que faz aqui? Veio buscar a Andréia?
- Vim me encontrar com você! Eu sou o Maurício!
- O que? E aquela foto?
- Era do meu sobrinho. Desculpa, é que sou apaixonado por você, mas não devia, você é colega da minha filha, conhece minha esposa!
Ameaçou levantar-se para embora, mas foi impedido por Patrícia!
- Fica!
- Como assim!
Não interessa que seja pai da minha colega, me apaixonei por você ter deixado o meu coração mais leve.
E se beijaram loucamente.




A infielDesde que se casara com Lígia, Olímpio não tinha olhos para outra mulher, amava-a profundamente e dava a ela uma vida de rainha. Médico bem sucedido, Olímpio não deixava sua esposa trabalhar, embora ela fosse formada em psicologia. Durante a noite, após um amor ardente, ficava horas contemplando a beleza do corpo nu de sua amada. Achava que não existia no mundo outra mulher tão bonita. Um dia a grande desilusão: Olímpio chegou mais cedo em casa e flagrou Lígia com outro na cama. Ficou em estado de choque.
- Por que você me traiu?
- Me perdoa, foi uma fraqueza! – disse a adúltera em prantos.
Pensou, refletiu e decidiu perdoar Lígia. As traições continuaram, só que com amantes diferentes. Desesperado, Olímpio quis saber o motivo da descarada infidelidade da esposa que lhe respondeu chorando:
- Eu te amo muito, mas não consigo me satisfazer só contigo.
Pensou em se separar de Lígia, mas não conseguia, pois a amava demais. Resolveu não enxergar o que acontecia debaixo do seu nariz. Lígia chegava cada vez mais tarde em casa e Olímpio nada dizia, apenas deitava ao seu lado e dormia.
Uma tarde, num bar, apareceu um rapaz com que Lígia se encantou, chamava-se Carlos e era um rapaz alto e de corpo atlético. Depois de fazerem amor, Lígia sentiu uma enorme dor de consciência por tudo o que tinha feito com o marido. Prometeu a si mesma nunca mais trair Olímpio. Chegando em casa verificou que as roupas de Olímpio não se encontravam mais no armário onde encontrou um bilhete do marido:
Tentei salvar o nosso casamento, mas vi que é impossível viver ao teu lado; estou indo embora. Aquele rapaz com quem você saiu hoje à tarde fui eu quem lhe arranjei. Quero também comunicar que tem uma surpresa para você na primeira gaveta do armário.
Lígia, curiosa, abriu a gaveta onde só havia o exame de HIV de Carlos com resultado positivo.

2 comentários:

LEIA SILAS Literatura Contemporânea disse...

Lindo Blogue
Belo trabalho. Adorei
Parabéns
A lua é letral, sempre
Silas
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ou
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Unknown disse...

Pessoal que gosta de contos, da uma olhadinha no meu blog:

contosoudevaneios.blogspot.com/

Obrigado.