terça-feira, 27 de outubro de 2009

Conto de Jorge Eduardo Magalhães publicado no Jornal Polegar







CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES

Medéia como desculpas
Simone tinha que acabar com aquela situação, iria imediatamente ao escritório de Olegário e terminaria tudo com ele. Já estava há dez anos naquela vida de amante e Olegário nunca se decidia, sempre adiava para depois a sua separação, sempre vinha com as desculpas mais estapafúrdias.
Quantos anos no Natal, no Reveillon e até no seu aniversário ela ficava sozinha em seu apartamento. Quantas vezes ela preparou um jantar especial e ele não apareceu. Apaixonara-se pó ele quando ainda era muito ingênua, romântica, ficava fascinada com o seu interesse pela leitura, em especial pelas tragédias gregas, do que ela não entendia nada ( só gostava de auto-ajuda).
Agora estava decidida a colocar Olegário contra a parede, ou ele largava a mulher ou eles terminavam tudo.
Quando entrou no escritório e Olegário se viu pressionado pela amante, este usou o seguinte argumento:
- Querida, vamos dar tempo ao tempo, minha mulher está louca, disse que se eu sair de casa ela mata as crianças e te mata envenenada! Querida, estou fazendo isso para te proteger!
- Oh meu amor, obrigada! Eu sei que você me ama!
Trocaram um beijo apaixonado. Simone não deu importância ao livro Medéia em cima da mesa de Olegário, por não saber do que se tratava.
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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CONTO PUBLICADO NO JORNAL POLEGAR





segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES

O martírio do soldado Cândido

jemagalhaes@yahoo.com.br

Cândido saiu do serviço de vinte e quatro horas e tomou o ônibus direto para casa. Estava atormentado, disposto a dar o flagrante em Jandira e por isso faltara ao serviço de segurança onde trabalha na folga para complementar seu salário.

No ônibus, no trajeto para casa, recordava os bons momentos que passara ao lado de Jandira. Lembrou-se do dia em que a conheceu, durante o carnaval, quando fazia o policiamento e Jandira desfilava num bloco em trajes mínimos. Dentre vários, Jandira olhou para ele, somente para ele. Que fim de semana maravilhoso aquele em Saquarema! Que corpo lindo que ela tinha!

Realmente ela havia engordado bastante nos últimos anos, mas a amava cada vez mais. Trabalhava dia e noite no quartel e na segurança para dar boa via àquela ordinária, para ela traí-lo com toda a molecada da rua. Seu informante ainda lhe contou que ela fazia de tudo com os garotos, mas nenhum deles beijava a sua boca devido ao seu mau hálito. Realmente, ultimamente seu hálito não era dos mais agradáveis, mas ele a amava mesmo assim. Até imaginava os comentários: “Lá vem o PM corno!”

Agora estava disposto a matá-la. Mataria Jandira e quem estivesse com ela na cama, ela não o esperava, pois achava que ele tinha ido para a segurança.

Chegou em casa bem devagar com a arma em punho, ouvia gemidos do quarto e lá estava Jandira, nua em pêlo com dois rapazes da rua.

Aquela cena grotesca lhe causou náuseas. “Que baranga! Que mulher asquerosa!” Os três se assustaram ao vê-lo e, aliviado, Cândido gargalhava com a arma apontada para o teto:

- Beija na boca senão morrem os três!

terça-feira, 20 de outubro de 2009







CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES


Um bom investimento

jemagalhaes@yahoo.com.br

Quando ainda era pequena, sua mãe falava:

- Essa aí vai dar pra modelo.

Mas o seu jeito de bicho-do-mato foi destruindo as pretensões da mãe em relação à filha.

Janaína cresceu, ficou adolescente, tornou-se adulta e Dona Maria, sua mãe, percebeu que a filha não levava jeito para estudar e nem tinha talento algum, mas uma coisa tinha de sobra: era bonita de chamar atenção.

A mãe que era muito direta dizia:

- O negócio é arranjar um marido rico para você, é um bom investimento.

Começou levando-a aos treinos dos grandes times de futebol, mas, tímida do jeito que era, a menina não se insinuava como queria a mãe.Tentou também levar a filha para a vida noturna e empurrá-la para o dono da boate.

- Você é um fracasso, dizia Dona Maria à filha apática.

Janaína chegou a iniciar um breve namoro com um tal de Adrielson, que trabalhava como cobrador de ônibus, mas o rapaz foi logo enxotado pela mãe.

Estava quase desistindo quando apareceu Seu Joaquim, sessentão dono da empresa de ônibus do bairro.

- Engravida dele que é um bom investimento.

Então, todos os dias quando terminava o expediente, Seu Joaquim ia para a casa de Janaína e ela tinha que agüentar aquele corpo sujo e suado e nada de engravidar.

- Assim não dá, dizia a mãe irritada.

Ficaram assim por dois anos, até que num acesso de desespero, Janaína surtou e quebrou toda a casa, irado, Seu Joaquim foi embora.

A ambulância teve que coloca uma camisa-de-força em Janaína para leva-la ao sanatório enquanto a sua mãe berrava:

- Você é um fracasso! Você é um fracasso!

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

CONTO PUBLICADO NO JORNAL O POLEGAR

Quarta-feira, 7 de Outubro de 2009


A pedagoga
Luci era orientadora pedagógica de uma escola pública. Cheia de idéias estapafúrdias, era mestra em vomitar jargões como "Temos que adaptar o ensino à realidade do aluno” ou “Temos que fazer um trabalho diferenciado com o aluno” e se alguém perguntasse “como?”, falava, falava e não chegava a lugar nenhum.Certa vez chamou a seu gabinete um professor que reprovava muito. “Não é reprovando que se educa! O senhor tem é que resgatar o aluno!”E se irritou quando o mesmo respondeu com sarcasmo: - Se eu quisesse resgatar alguém iria para o Corpo de Bombeiros.Abominava por completo o ensino tradicional e “conteudista”, achava que os alunos rendiam mais com os projetos como batuques, capoeira, etc.- Para que encher a cabeça do aluno com matemática ou português? A escola tem que ser um lugar agradável para o aluno!Trabalhava o dia inteiro na escola e quando chegava em casa, ia logo olhar os exercícios de português, matemática, história e outras matérias do caderno do seu filho que estudava numa escola particular tradicional e super “conteudista”.

sábado, 3 de outubro de 2009

PUBLICAÇÃO DE CONTO NO JORNAL POLEGAR







Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009

CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES


Papai, tenho que te dizer uma coisa


Desde pequeno tinha trejeitos femininos, quando o pai lhe deu uma bola de presente, pôs-se a niná-la e brincando de pique com as outras crianças corria feito uma gazela.À proporção que ia crescendo e tornando-se adulto, seus trejeitos afeminados ficavam mais visíveis, só de olhar todos percebiam a sua tendência sexual. Todos menos seu pai que insistia em querer lhe arranjar namoradas e atribuía seus trejeitos a uma forma divertida de arranjar mais clientes para o seu salão de beleza.Um dia, depois de dar pistas escancaradas, resolveu ser mais direto, aproximou-se do pai que estava sentado lendo o jornal:- Papai, tenho que te dizer uma coisa.- Não vai me dizer que você engravidou alguém!- Não papai, é que... eu sou gay.- O quê?- Isso mesmo, eu sou gay.O pai ficou calado por alguns instantes e caiu na gargalhada:- Nossa, meu filho, que susto que você me deu! Você é mesmo um sacana! Vê se pode, me dizer que é gay!
Postado por Jornal Polegar às 4:45 AM