quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

CONTO DE JORGE EDUARDO PUBLICADO NO JORNAL POLEGAR - NOVO HAMBURGO/RS



A visita

 Hoje é domingo, e como sempre faço, vou visitar meu filho. Entro na fila e passo por uma minuciosa revista.
 Como fiz projetos para aquele menino! Paguei os melhores colégios, os melhores cursos, freqüentou os melhores clubes da cidade pra terminar do jeito que terminou.
 Admito que eu tenha culpa nisso tudo, pois sempre fiz todas as suas vontades, sempre passei a mão em sua cabeça.
 Como me arrependo do dia em que fui chamado à escola porque ele havia xingado a professora e me limitei a dizer que ela tinha que aturar, que eu pagava uma mensalidade muito cara e que se meu filho a xingou era porque sua aula devia ser uma porcaria. Percebi como a professora se sentiu humilhada e na hora triunfei com isso. Não parei por aí. Incentivei meu filho a desrespeitar porteiros, faxineiros, garçons. Cansei de dar dinheiro para que ele subornasse policiais no caso de ser pego dirigindo sem habilitação. Uma vez um policial honesto não aceitou o suborno e o levou para a delegacia, rapidamente dei um jeito, com meus conhecimentos, para transferi-lo. Eu e meu filho ficamos rindo da cara dele.
 Agora tenho que ir todo domingo àquele pulgueiro, tendo que ver meu filho passar por aquele inferno, por aquele tormento. Seus lábios sorriem para mim, mas seus olhos dizem: “Pai, me tire daqui, pelo amor de Deus!”
 Estou pagando os melhores advogados, mas está difícil, o que ele fez é muito grave. O que me dói mais é que eu contribuí para que tudo isso acontecesse, a culpa foi toda minha.


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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CARNAVAL DE 2072


No centenário de meu nascimento,
Serei enredo de escola de samba,
Minha vida nos pés de gente bamba,
Que alegre cantará os meus momentos.

Meu filho, que já será sessentão,
Na passarela me representando,
E sua semelhança relembrando,
Minha pessoa com muita emoção.

A escola contará minha história,
Entre os esplendores e fantasias,
Entre adereços e alegorias,
Irão resgatar minha trajetória.

Terá uma ala das poesias,
Outra para as peças teatrais,
Um carro lembrando meus carnavais,
E a multidão esbanjando alegria.

No final, um grande carro alegórico,
Representando a bela jornalista,
Musa inspiradora do sonetista,
Retratando este momento histórico.

Relembrando a musa de Campo Grande,
Sapucaí, palco fenomenal,
Escola campeã do carnaval,
Dona de um espetáculo estonteante.
(Jorge Eduardo Magalhães)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

CONTO DE JORGE EDUARDO PUBLICADO NO JORNAL TREM ITABIRANO - MG


A infiel


Desde que se casara com Lígia, Olímpio não tinha olhos para outra mulher, amava-a profundamente e dava a ela uma vida de rainha. Médico bem sucedido, Olímpio não deixava sua esposa trabalhar, embora ela fosse formada em psicologia. Durante a noite, após um amor ardente, ficava horas contemplando a beleza do corpo nu de sua amada. Achava que não existia no mundo outra mulher tão bonita. Um dia a grande desilusão: Olímpio chegou mais cedo em casa e flagrou Lígia com outro na cama. Ficou em estado de choque.




- Por que você me traiu?




- Me perdoa, foi uma fraqueza! – disse a adúltera em prantos.




Pensou, refletiu e decidiu perdoar Lígia. As traições continuaram, só que com amantes diferentes. Desesperado, Olímpio quis saber o motivo da descarada infidelidade da esposa que lhe respondeu chorando:




- Eu te amo muito, mas não consigo me satisfazer só contigo.




Pensou em se separar de Lígia, mas não conseguia, pois a amava demais. Resolveu não enxergar o que acontecia debaixo do seu nariz. Lígia chegava cada vez mais tarde em casa e Olímpio nada dizia, apenas deitava ao seu lado e dormia.




Uma tarde, num bar, apareceu um rapaz com que Lígia se encantou, chamava-se Carlos e era um rapaz alto e de corpo atlético. Depois de fazerem amor, Lígia sentiu uma enorme dor de consciência por tudo o que tinha feito com o marido. Prometeu a si mesma nunca mais trair Olímpio. Chegando em casa verificou que as roupas de Olímpio não se encontravam mais no armário onde encontrou um bilhete do marido:




Tentei salvar o nosso casamento, mas vi que é impossível viver ao teu lado; estou indo embora. Aquele rapaz com quem você saiu hoje à tarde fui eu quem lhe arranjei. Quero também comunicar que tem uma surpresa para você na primeira gaveta do armário.




Lígia, curiosa, abriu a gaveta onde só havia o exame de HIV de Carlos com resultado positivo.