Por:
Jorge Eduardo Magalhães
I –
Introdução
Publicado em 2001, o romance Nove
noites, de Bernardo Carvalho tem uma narrativa que oscila entre o tempo
presente e o tempo passado, num espaço em que o narrador-personagem faz um
cruzamento entre ficção e realidade e no qual um leitor desatento pode acabar
se perdendo.
Baseado num fato real, o suicídio de um etnólogo americano, Buel Quain,
em agosto de 1939, no meio da floresta, quando regressava de uma aldeia
indígena no Tocantins, sem nenhum motivo que aparentemente justificasse sua
atitude tão drástica. Quain deu cabo à sua vida quando tinha apenas 27 anos na
frente dos índios Krahôs que o acompanhavam de volta à cidade de Carolina.
No romance aqui estudado, Bernardo Carvalho propõe um resgate deste
remoto fato verídico e dramático ocorrido na longínqua década de 30 do século
passado, fato até então, praticamente esquecido pela maioria das pessoas. O
romance faz do cruzamento entre ficção e realidade algo tão verossímil que leva
o leitor a minimizar esse distanciamento.
A proposta principal deste trabalho é justamente fazer um breve estudo desta
desconstrução narrativa e temporal no romance de Bernardo Carvalho em que as linguagens
literária e jornalística, unidas por um jogo entre o tempo e o espaço, e
através de um misterioso narrador, oscilam entre o tempo presente e o tempo
passado; o tempo real e o imaginário; o espaço urbano e o selvagem. A partir de
uma entrevista do próprio Bernardo Carvalho abordaremos a questão do
paternalismo dentro da obra estudada e até onde a fala dos narradores, na
verdade, é a fala do próprio autor.
Será feita justamente uma breve análise sobre a questão do pai dentro da
obra. O paternalismo em relação aos índios, a influência do pai na vida de
Buell Quain e na sua tão drástica atitude.
II – O foco
narrativo – a relação entre autor, narrador e obra
Em Nove noites, os narradores-personagens:
Manuel Perna, o engenheiro que convive com o antropólogo, e o jornalista que
investiga o suicídio de Quain, sessenta e dois anos depois, apesar de representarem
a parte ficcional da obra, misturam-se com os fatos reais e, muitas vezes, podem
confundir o leitor, pois este segundo, que representa o lado investigativo, não
deixa claro de quem se trata e qual é o seu verdadeiro interesse. [1]
Segundo Sílvia Regina Pinto:
Neste texto proponho-me a pensar a
narrativa ficcional contemporânea, no que se refere, especialmente, ao papel do
narrador enquanto vítima de si mesmo, isto é, como sujeito agenciador de
estruturas referenciais complexas, que sinalizam para as tentativas de
demarcação de territórios ficcionais feitos de areias movediças, fronteiras
deslizantes e sujeitos performáticos, que, muitas vezes, não passam de
simulacros.[2]
Podemos observar em Nove noites
que o foco narrativo é muito amplo e até mesmo complexo onde o narrador finge e,
muitas vezes, deixa vago aquilo o que está querendo nos dizer. Percebemos que
um enorme vácuo e um grande mistério cercam a leitura no decorrer do todo o
romance.
O romance desconstrói a forma da narrativa tradicional da prosa em geral,
oferecendo-nos um jogo, quando esta narrativa é um desafio ao leitor acostumado
com narrativas convencionais. Nove noites
[3].
O livro inicia com uma carta contando fatos vivenciados pelo narrador que
conheceu e conviveu com Quain. Este, antes de iniciar sua narrativa previne ao
seu provável leitor que é [4]
para o que ele vai contar.
Pouco a pouco este narrador fornece ao leitor alguns dados sobre si mesmo,
como o lugar onde vivia e sobre um fato que mexeu com toda a aldeia: a chegada
de um jovem antropólogo americano que se tornou seu amigo, <À falta de outra
amizade> no ano de 1939.
Observemos essa afirmação de Belém Barbosa sobre o perfil do
narrador-observador:
Não sabemos quem investiga, até porque
ninguém nunca lhe perguntou a razão de sua curiosidade. Há a desculpa de
escrever um livro, que vai adiantando para não levantar suspeitas. Pela sua mão
somos guiados para entrevistas com pessoas que privaram com Quain arquivos
públicos e memórias deixadas em cartas, escritas pelo suicida antes de morrer
e, por fim, por seu amigo com quem partilhou nove noites de conversas e
relações.[5]
O narrador, numa narrativa central, conduz o leitor para vários outros
relatos e narrativas.
Revela que cinco meses depois de sua chegada àquela região, o amigo
americano cometeu suicídio deixando uma carta para ele, outra para o capitão,
delegado de polícia, além de outras cinco para familiares e amigos nos Estados
Unidos. Mostra-se desconfiado e temeroso. Sua narrativa, em tom intimista, leva
o leitor a querer saber mais detalhes e a continuar a leitura.
O narrador, que diz ter convivido com Buell Quain, guarda consigo, mesmo
seis anos após a morte do amigo, a carta endereçada ao capitão por medo e
desconfiança de quem o cerca. Conta que foi quase obrigado a deixar a cidade de
Carolina, para onde pretende voltar. Deixa o testamento para o seu leitor e não
tem certeza se este o lerá um dia.
Há no romance uma quebra de narrativa, que vai do relato das cartas do
primeiro narrador, direto para os dias atuais, mais precisamente o ano de 2001,
sessenta e dois anos após a morte do etnólogo americano onde o narrador agora é
um leitor do século vinte e um que lê sobre Buell Quain num artigo de jornal. A
partir daí começa sua curiosa busca por detalhes a respeito de Buell Quain.
Com a ajuda da antropóloga que escreveu o artigo lido no jornal é que este
narrador-personagem começa a sua pesquisa. Chega a ter, de início, acesso a
quatro das sete cartas que foram deixadas por Buell, entre elas a deixada para
Manoel Perna, engenheiro de Carolina que, por associação, o leitor chega à
conclusão de que se trata do autor da carta que inicia o livro.
Sua pesquisa sobre o jovem etnólogo americano Buell Quain, que cometeu
suicídio quando tinha apenas 27 anos, revela ao leitor uma mistura de fatos
históricos e fictícios que torna a história tão verídica como as datas e os
fatos marcantes nos anos de 1938 e 1939.
Os narradores da trama, em algumas partes, são tão ambíguos e em outras
tão vagos, o que fazem o leitor, às vezes, acreditar em tudo aquilo o que falam
e outras o faz duvidar.
Bernardo Carvalho é jornalista, foi editor do “Folhetim” e correspondente
em Londres e Nova York pela Folha de São
Paulo. Isso nos leva a crer que haja um pouco do autor no
narrador-personagem que investiga o caso sessenta e dois anos depois, tanto
pela sua linguagem jornalística, quanto pelo trabalho de pesquisa e
investigação do narrador-repórter que vai até os índios do Xingu procurando
pistas sobre o convívio de Quain com os Krahô e viaja para os Estados Unidos em
busca de algum familiar do etnólogo.
Em sua recente entrevista para um site onde fala exclusivamente de Nove noites, Bernardo Carvalho fala da
incômoda relação de paternalismo entre antropólogos e índios. Daí é possível
fazer uma análise de como o índio é retratado sob o ponto de vista dos
narradores e de como esse ponto de vista reflete as idéias do próprio autor
como podemos ver no trecho de uma carta de Buell Quain a amiga Júlia:
“(...) As calças e camisas são para eles. Não gosto de lhes dar roupas,
pois ficam bem melhor sem elas – mas eles insistem.”[6]
Vejamos também este trecho de outra carta de Quain para Ruth Landes:
“Encontrei um grupo de índios krahô e eles parecem pavorosamente obtusos.
Têm cortes de cabelo engraçados, furam as orelhas e continuam sem usar roupas
nas cidades.”[7]
Sem dúvida, esse ponto de vista de Buell acerca dos índios está bem
próximo do que pensa o autor, que cita Levi Strauss ”que não gosta dos índios,
não tem nenhum tipo de paternalismo, apenas gosta de seu estudo”.
III – A questão do pai
A contrariedade em relação ao paternalismo com os índios é reforçada
quando o narrador-jornalista, que investiga o caso, aponta as dificuldades que
Buell pode ter enfrentado no trato dos índios por ser estrangeiro ao citar uma
fala de Castro Faria:
“No tempo de Rondon, havia toda aquela ideologia de não tocar no índio,
de não ter relações sexuais com os índios, de morrer se preciso fosse, matar
nunca. Havia muitos erros de SPI (Sistema de Proteção ao Índio) nesse tipo de
contato”.[8]
Sabendo-se que Rondon era bisavô de Bernardo Carvalho, fica no ar se esta
afirmação é de Castro faria ou do próprio autor.
Toda essa questão de paternalismo é repassada para a questão do pai, a
figura do pai como central na formação do indivíduo. Quain e seu estado
emocional, sua vida familiar e todo o tormento que o levaria ao suicídio passam
pela imagem do pai.
Segundo Bernardo Carvalho na referida entrevista:
Todo mundo está à procura de um pai. Os
índios estão querendo um pai, pois de alguma maneira são órfãos da civilização.
O Quain tinha uma relação complicadíssima com o pai, e ao mesmo tempo faz o
papel de pai com os índios. O narrador, do mesmo modo, contrapõe a história do
antropólogo com a do próprio pai. Tudo gira em torno da linguagem paternal. É
curioso. É uma ficção que tem a ver com antropologia e que acaba sendo sobre as
relações de parentesco.[9]
Essa questão do pai estaria diretamente ligada ao desajuste emocional de
Quain que o levou tão cedo a tantas buscas pessoais, talvez buscasse uma
resposta para sua própria identidade.
No livro O que é um pai? há uma
discussão sobre essa abordagem da questão do pai na modernidade e na
contemporaneidade.
Segundo Nadiá Paulo Ferreira:
“No século XIX, a dor de existir comparece sob a via da insubordinação à
imagem de um pai potente (...). Na contemporaneidade, retira-se de cena a dor
de existir e põe-se em seu lugar a promessa de um gozo a mais”. [10]
Parece que Buell Quain seria esse jovem que vê o pai denegrido,
destituído de sua virilidade e com quem não é preciso mais travar combate, pois
já se apresenta vencido. No entanto, a falta do combate o leva a um mal-estar,
a um recalque e a uma sensação de fracasso.
Em Nove noites, esse mal-estar
diante da figura do pai é revelado pelo narrador-investigador:
“Dois meses antes de se matar, o antropólogo mencionou em suas cartas
questões familiares que o obrigavam a romper o trabalho com os índios e voltar
para os Estados Unidos”.[11]
Mais adiante, na mesma página, em uma carta de Buell Quain verificamos a
seguinte confissão:
Meus pais acabam de passar por um
divórcio que durou seis meses. Estão com quase setenta anos, e se odiaram por
trinta anos ou mais. Meu pai sofre de uma degenerescência senil – talvez seja o
que o tenha levado a escarafunchar o passado nos últimos seis meses.[12]
Mais adiante, numa fala atribuída a Castro Faria, temos a revelação de
que provavelmente o divórcio dos pais de Quain fosse a razão de sua
instabilidade emocional.
O próprio Bernardo Carvalho, na entrevista citada, aponta o provável
desajuste de Buell Quain pelo fato deste fazer parte de um grupo selecionado
por Ruth Benedict, sua orientadora. Ruth era gay e estaria fora do eixo da
cultura americana. Parecia que todos desse grupo, selecionados por ela, eram considerados
também desajustados.
Ainda no livro O que é um pai?,
Nadiá Paulo Ferreira argumenta:
Atrás de figura de um pai frágil e sem
força, que nada tem a oferecer aos ideais, temos o processo de degradação do
outro. (...) Eis o quadro de tragédia humana, corporificando um lugar e
substancializando uma função para transformá-la ou em um pai onipotente e
portanto invencível (século XIX) ou em um pai que falha e fracassa
(Contemporaneidade)[13]
Numa bela passagem de Nove noites,
o narrador-jornalista brinda o leitor com uma análise profunda da relação
humana de paternidade:
O mais incrível, nos nascimentos, é a
euforia cega com que os pais encobrem o risco e a imponderabilidade do que
acabaram de criar, a esperança com que recebem e que os faz transformar em
augúrio promissor a incapacidade de prever o futuro que ali se anuncia e a
impotência de todas as medidas de precaução nesse sentido. Se assim não fosse,
é bem provável que o ser humano já tivesse desaparecido da face da terra, pelas
mãos de mães zelosas e assassinas.[14]
Sem dúvida este parêntese que se abre no texto de Nove noites revela ao leitor uma reflexão do autor na voz do
narrador-personagem, que investiga o caso do suicídio. Com isso se conclui toda
a sua preocupação com a influência do pai na vida e na morte de Buell Quain.
IV – O tempo: o cruzamento entre
ficção e realidade
Como nos alerta o próprio Bernardo Carvalho, na citada entrevista, nada
que é dito em seu livro pode ser considerado totalmente verídico, até mesmo as
cartas, pois toda a parte real da obra pode ter sido modificada pelo autor
justamente para que seu objetivo, o de tornar indistinta a relação entre ficção
e fato real, fosse alcançado.
O narrador nos conduz em um jogo, uma armadilha como podemos perceber
nesta entrevista do próprio Bernardo Carvalho sobre Nove noites no Paiol Literário de 2007:
Quando eu o escrevi, tinha escrito
livros esquisitos, que não vendiam, que as pessoas não gostavam. Então fiquei
irritado e entendi o que as pessoas queriam: história real, livro baseado em
história real. Pensei: “Se é isso que eles querem, é isso que eu vou
fazer”. Mas fiz algo perverso para
enganar o leitor, criar uma armadilha. O leitor pensa que está lendo uma
história real, mas é tudo mentira.[15]
A narrativa nos leva a essas pistas falsas, pois não sabemos quando o
narrador está falando a verdade, especialmente quando descreve a narrativa dos
índios. O próprio Benardo Carvalho em uma entrevista diz que .[16]
O cruzamento entre ficção e história aparece o tempo inteiro em Nove noites, mas podemos destacar
especialmente o relato do narrador-personagem, que representa a investigação, quando
este se encontra com o professor Luiz de Castro Faria no seu apartamento em
Niterói.
O narrador revira vários arquivos, um deles, a de Heloísa Alberto Torres
que foi diretora do Museu Nacional do Rio de Janeiro na década de 30.
Antes do encontro com o professor, o narrador-investigador logo nos dá
uma pista deste contexto histórico inserido na obra como podemos perceber neste
trecho de Nove noites:
Buel Quain se matou na noite de 2 de
agosto de 1939 – no mesmo dia em que Albert
Einstein enviou ao presidente Roosevelt a carta histórica em
que alertava sobre a possibilidade da bomba atômica, três semanas antes da
assinatura do pacto de não-agressão entre Hitler e Stalin, o sinal verde para o
início da Segunda Guerra e, para muitos, uma das maiores desilusões políticas
do século XX.[17]
Encontra-se pessoalmente com Castro Faria em seu apartamento em Icaraí,
uma das últimas pessoas vivas que conheceu Buell Quain.
Castro Faria revela ao nosso narrador que ele e Quain não foram íntimos,
foram contemporâneos. O que lhe chama mais atenção é o fato da morte de Quain
não ter abalado seus colegas.
O encontro do narrador-investigador com Castro Faria é fundamental para
descrever um pouco do perfil de Quain e relatar o período na história de nosso
país em que conviveu com o etnólogo americano e, consequentemente, o ano de seu
suicídio: a Era Vargas e o Estado Novo quando [18]
O narrador descreve a lucidez, a memória e a articulação do professor
Luiz Castro Faria, apesar de seus oitenta e oito anos.
O professor o recebe na biblioteca de seu apartamento e conta sua
convivência com Quain onde revela que não eram íntimos, apenas conviveram numa
das últimas vindas do etnólogo americano ao Brasil.
Através do professor Castro Faria podemos fazer uma breve reconstituição
do que era o Brasil e sua política no final da década de 30. Em 1938, aos vinte
e quatro anos de idade, Castro Faria foi membro do Conselho de Fiscalização
numa expedição com Levi Strauss. Segundo ele [19]
Lembrando que o golpe de estado intitulado “Estado Novo”, foi dado no ano
anterior da expedição em que Castro Faria
acompanhou Levi Strauss. O nome Estado Novo foi inspirado na ditadura de
Antônio de Oliveira Salazar, em
Portugal. O regime durou até 29 de outubro de 1945 quando
Getúlio Vargas foi deposto pelas Forças Armadas.
O Estado Novo fazia constantes censuras e fiscalizações em todo o
território brasileiro e também em quem por ele se movimentava. Um exemplo disso
foi a nomeação de interventores para governarem os estados, quando Vargas deu a
estes plena autonomia administrativa e a censura aos meios de comunicação
realizada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) que também fazia
propaganda do governo vigente.
Observemos este trecho do livro onde o narrador-investigador fala sobre o
regresso de Quain da aldeia dos Trumai:
Sua expedição solitária aos Trumai ao
longo de 1938 foi marcada por percalços, imprevistos, frustrações e
contrariedades, que terminaram com a
interrupção de sua pesquisa de campo, a indisposição do Estado Novo e a volta
forçada ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1939. Um golpe que abalou ainda mais
o seu estado de espírito.[20]
As dificuldades existentes devido à ditadura de Vargas é apenas um
exemplo quando se trata do contexto histórico inserido neste livro de Bernardo
Carvalho, pois devemos lembrar que esta cita o desmatamento das matas
brasileiras durante o governo militar para fazer pasto com o pretexto de
desenvolver a região nas décadas de sessenta e setenta do século passado e o
fatídico 11 de setembro, já no ano de 2001 no início do nosso século quando o
narrador-investigador está pesquisando a morte de Quain.
Observemos esta outra afirmação de Belém Barbosa sobre este cruzamento entre
ficção e história na obra:
Bernardo Carvalho junta habilmente a realidade
e a ficção, o romance e a investigação que desenvolveu sobre os índios e sobre
o antropólogo. Como nos diz o próprio autor nos agradecimentos; <É uma
combinação de memória e imaginação – como todo romance, em maior ou menor grau,
de forma mais ou menos directa>.[21]
Citando exemplos de escritores anteriores a Bernardo Carvalho que fizeram
com maestria este cruzamento como o grande Machado de Assis em Esaú e Jacó e, posteriormente, Rubem
Fonseca em Agosto e Moacyr Scliar em A majestade do Xingu, podemos dizer que
Carvalho em Nove noites inova devido
aos narradores que viajam entre o presente e o passado.
V – Conclusão
O romance Nove noites não é o
primeiro exemplo na Literatura Brasileira onde o narrador se mistura e se
envolve diretamente com a trama e com as personagens e nem muito menos é o
primeiro que se propõe a fazer um cruzamento entre ficção e realidade, mas
mesmo assim é inovador porque os tempos, os espaços e os narradores se misturam
à medida que procura tecer a trajetória, a história do etnólogo americano Buell
Quain e as reais causas de seu suicídio.
Como já foi dito anteriormente, este cruzamento no faz ter dúvidas sobre o
que é ficção e o que é realidade; o leitor não sabe muito bem onde está pisando
e muitas vezes, numa falta de atenção pode se perder.
Os narradores desta obra de Bernardo Carvalho nos levam a reconstituição
dos vários espaços pisados pelo etnólogo, tanto fora, quanto dentro do Brasil,
tanto num espaço urbano quanto selvagem. Espaços estes que fazem o leitor
viajar entre o presente e o passado.
A questão do pai, o paternalismo presente na obra é muito marcante em Nove noites quando temos a suposição de que
a figura paterna influenciou todo um desequilíbrio emocional na personalidade
de Quain, um pai fraco vencido por um casamento infeliz e por uma doença. Não
só o pai, como a questão familiar foram fundamentais para a instabilidade e
pelo desajuste social do etnólogo americano.
Vemos também o paternalismo criticado por Bernardo carvalho quanto ao
tratamento dado aos índios. Estes, por sua vez, procuram o tempo inteiro a
figura do pai, a figura de um protetor.
A linguagem jornalística e as
opiniões dos dois narradores-personagens, principalmente o
narrador-investigador, confundem-se com a do próprio Bernardo Carvalho, que
além de ser jornalista em sua entrevista, fala de Buell Quain visto como pai
pelos índios, que a todo tempo procuram esta figura paterna, e sua conturbada
relação com o próprio pai.
Bibliografia
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trama traiçoeira de Nove noites. 23 set. 2002.
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6 PINTO, Sílvia
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7 RESENDE, Beatriz.
“Bernardo Carvalho ousa escrever um anti-quarup”. Jornal do Brasil, Caderno
Idéias, 08/03/2003
9.http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=45&lista=0&subsecao=0&ordem=1504.
10. RESENDE, Beatriz.
“Bernardo Carvalho ousa escrever um anti-quarup”. Jornal do Brasil, Caderno
Idéias, 08/03/2003
11. http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/1586,1.shl
12. http://www.tirodeletra.com.br/biografia/BernardoCarvalho.htm
13. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u530828.shtml
14. http://bombsite.com/issues/102/articles/3038
15. http://revistalivro.files.wordpress.com/2010/04/nove_noites.gif
16. http://www.ufmg.br/online/arquivos/007087.shtml
[1]
BARCELOS, Janaína Dias.
[2] PINTO, Sílvia
Regina. In: ----. Desmarcando territórios ficcionais: aventuras e perversões do narrador. http://www.dubitoergosum.xpg.com.br/convidado23.htm.
p. 2.
[4]
CARVALHO, Bernardo. Nove noites. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 6.
[5] BARBOSA,
Belém. www.novacultura.de/0403carvalho.2.html.
[6] Op. Cit.
nota 4. p. 25.
[7] Idem.
p.26.
[8] Idem.
p.33.
[9] MOURA, Flávio. A
trama traiçoeira de Nove noites. 23 set. 2002.
www.eduquenet.net/novenoites. p. 2.
[10]
FERREIRA, Nadiá Paulo. Sob os véus da castração – a questão do pai na
Modernidade e Contemporaneidade. In: ----. DAVID, Ségio Nazar (Org.). O que é um pai?. .Rio de Janeiro:
EdUERJ, 1997. p. 51-52.
[11] Op.
cit. nota 4. p. 18.
[12] Idem.
p. 18.
[13] Op.
Cit. nota 10. p. 51-52.
[14] Op. cit. nota 4. p. 16.
[15]http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=45&lista=0&subsecao=0&ordem=1504.
p. 3.
[16] Op. cit. nota 9. p.1.
[17] Op.
cit. nota 4. p. 12.
[18] Idem.
p. 38.
[19] Idem p.
27.
[20] Idem.
p. 14.
[21] Op.
Cit. nota 5.
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