SAUDADES
Oh saudades! / M eu carnaval é você/ Caprichosamente / Vamos reviver (...).
Quem não se lembra desse inesquecível samba da Caprichosos de Pilares no carnaval de 1985? Aquele era um ano de transição no país, estávamos finalmente saindo da ditadura, aliás, na televisão passava uma propaganda com dicas para o carnaval que tinha o jingle: “Caia na folia! Caia na folia! No carnaval da democracia!”
O brasileiro vivia uma época de muitas esperanças e também de saudades de tempos passados que provavelmente não voltariam mais. Saudades era o enredo da Caprichosos naquele ano e, conforme o samba dizia, saudades do amolador de faca, do leite sem água, da gasolina barata.
Lembrava que diretamente o povo elegia o presidente, pois estávamos saindo do governo militar; daquela seleção nacional, pois desde 1970 o Brasil não vencia uma copa do mundo; do Botafogo, que amargava o título desde 1968 e da virgindade que havia levado sumiço.
De lá para cá, muitas coisas mudaram no país, outras não: o bonde, como em 85, só podemos ver no Corcovado ou em Santa Teresa, o amolador de facas, ainda é possível ver muito raramente perdido em alguma rua do subúrbio e a virgindade continua desaparecida; mas elegemos diretamente o presidente, a seleção brasileira ganhou mais duas copas do mundo e o Botafogo já foi campeão algumas vezes a partir de 1989.
De várias coisas que os cariocas sentem saudades, uma delas são os velhos carnavais da Caprichosos com seus enredos e sambas irreverentes e por isso em nome de todos os apaixonados pelo carnaval pergunto – onde anda você Caprichosos de Pilares com seus antigos carnavais?
(Jorge Eduardo Magalhães)
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