Hoje é domingo, e como sempre faço, vou visitar meu filho. Entro na fila e passo por uma minuciosa revista.
Como fiz projetos para aquele menino! Paguei os melhores colégios, os melhores cursos, freqüentou os melhores clubes da cidade pra terminar do jeito que terminou.
Admito que eu tenha culpa nisso tudo, pois sempre fiz todas as suas vontades, sempre passei a mão em sua cabeça.
Como me arrependo do dia em que fui chamado à escola porque ele havia xingado a professora e me limitei a dizer que ela tinha que aturar, que eu pagava uma mensalidade muito cara e que se meu filho a xingou era porque sua aula devia ser uma porcaria. Percebi como a professora se sentiu humilhada e na hora triunfei com isso. Não parei por aí. Incentivei meu filho a desrespeitar porteiros, faxineiros, garçons. Cansei de dar dinheiro para que ele subornasse policiais no caso de ser pego dirigindo sem habilitação. Uma vez um policial honesto não aceitou o suborno e o levou para a delegacia, rapidamente dei um jeito, com meus conhecimentos, para transferi-lo. Eu e meu filho ficamos rindo da cara dele.
Agora tenho que ir todo domingo àquele pulgueiro, tendo que ver meu filho passar por aquele inferno, por aquele tormento. Seus lábios sorriem para mim, mas seus olhos dizem: “Pai, me tire daqui, pelo amor de Deus!”
Estou pagando os melhores advogados, mas está difícil, o que ele fez é muito grave. O que me dói mais é que eu contribuí para que tudo isso acontecesse, a culpa foi toda minha.
Postado por Jornal Polegar às 3:40 AM 0 comentários Links para esta postagem