Em dezembro de 2008 foi publicado o meu conto "Mais um Natal que passou" na Colectânea de Contos de Natal, pela Letrário Editora, Lisboa, capital de Portugal. A coletânea sobre temas natalinos selecionou contos de escritores portugueses, brasileiros e angolanos. Leiam meu conto abaixo:
Mais um Natal que passou
Desde que uma cartomante dissera que o grande amor de sua vida entraria pelo portão de sua casa numa véspera de Natal, ficava apreensiva todo ano quando se aproximava a data festiva. Mesmo tendo passado quase dez anos que a previsão havia sido feita, nunca perdia a esperança e sempre mandava fazer um vestido novo para passar o dia vinte e quatro de Dezembro.
Estava perto de completar quarenta anos e ainda morava na casa de seus pais, pois seu minguado salário de professora primária mal daria para pagar um quarto e fora que seus pais, já idosos, precisavam dela.
Suas duas irmãs moravam com suas respectivas famílias no mesmo terreno e, além de cuidar dos pais, também auxiliava na criação dos sobrinhos.
Todo ano, no mês de Dezembro, gastava todo o seu décimo-terceiro salário com a preparação da ceia de Natal da família e com os presentes para os pais, irmãs, cunhados e sobrinhos e todos comemoravam a data montando uma farta mesa no quintal em comum.
Apesar de toda a sua dedicação, de ter abdicado de sua própria vida em prol da família, sempre ouvia piadas por parte dos pais, irmãs e cunhados por ainda estar solteira e tais gracejos ficavam ainda mais cruéis nas festas de fim de ano, quando sempre exageravam um pouco mais na bebida.
Mesmo sabendo dos infortúnios que ia passar e as coisas que teria que ouvir como nos anos anteriores, estava disposta a passar mais um Natal em família, pois tinha certeza absoluta de que a previsão da cartomante iria se concretizar e, como sempre, comprou toda a ceia, presente para todos e mandou fazer um vestido bem bonito com a melhor costureira do bairro.
Ficou ainda mais entusiasmada quando ouviu um de seus cunhados comentar que na véspera de Natal receberia em sua casa um colega de trabalho. Tinha certeza, era esse colega de trabalho o grande amor da sua vida que a cartomante tinha falado. Como ele seria? Seria bonito? Suspirava só de pensar nele entrando pelo portão de sua casa e ficava horas e mais horas cantarolando, imaginando o rosto do grande amor de sua vida que estava para chegar.
Como nos Natais anteriores, todos beberam um pouco além da conta e fizeram as gozações de sempre. Alguém até chegou a lhe chamar de encalhada. Riu tentando fingir levar na brincadeira.
A hora foi passando e nada do tal amigo chegar. Estava ansiosa e a cada instante olhava para o portão.
Finalmente deu meia-noite e cessaram as piadas para receberem os presentes que ela havia comprado. Finalmente entrou o amigo portão adentro. Era gordo, careca, feio, usava uma camisa amarrotada e estava completamente embriagado, pois estava deprimido por ter brigado com a esposa. Foi apresentado a todos e na hora de cumprimentá-la vomitou em cima de seu vestido. Todos riram e alguém comentou que aquilo podia ser um sinal de sorte e, de repente, poderia até arranjar um marido.
Sorriu sem jeito e saiu para tomar um banho. Quando se trancou no banheiro começou a chorar, mas rapidamente se recompôs, afinal não podia perder a esperança, tinha certeza de que no Natal do próximo ano tudo seria diferente.
Fim
Jorge Eduardo Magalhães nasceu no Rio de Janeiro no dia 13 de Fevereiro de 1972. Em 1997 graduou-se em Letras pela Faculdade de Humanidades Pedro II tendo as especializações em Literatura Brasileira e Portuguesa, ambas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente leciona na Rede Estadual de Ensino e na Prefeitura Municipal de São Gonçalo.
Publicações: O amor e o escarro (Contos-2001), Coração Venal (Romance-2002), Moleque João e o Rio Sarapuí (Infantil-2003), O menino da Portela (Infantil-2003), além de ter publicado contos na Revista do Clube dos Escritores de Piracicaba e do jornal "O debate".
Az. Torre do Fato, 2 A, 1600-298 Lisboa
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2 comentários:
Bacana, Jorge! Parabéns, viu? Acho legal o seu jeito de escrever: seco. Até me reportei aos meus natais. Detesto comentários burros de parentes ( a gente tem que engolir porque é natal!).
Parabéns!!!Continue assim: escrevendo, escrevendo, escrevendo... Beijos e sucesso!!! Ana Cristina
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