(O médico está no consultório)
MÉDICO – O próximo, por favor. (Entra uma bichona aparentemente deprimida)
MÉDICO – Pode sentar. (Senta-se) O que houve?
HOMOSSEXUAL (Chorando) – Ai doutor eu estou sofrendo tanto! Tem dia que eu penso em cortar meus pulsos, ou então me jogar pela janela!
MÉDICO – Mas por quê?
HOMOSSEXUAL – Eu não suporto mais ser do jeito que eu sou!
MÉDICO – Como assim?
HOMOSSEXUAL – Eu não agüento mais ser gay. Isso é um martírio pra mim! Eu quero mesmo é casar, ter filhos!
MÉDICO – E por que não faz isso?
HOMOSSEXUAL (Em prantos) – Eu não consigo, eu acho um casal heterossexual bonito, mas eu não consigo gostar de mulher, ou melhor, (Histérico) eu tenho horror! (Cai em prantos)
MÉDICO – Calma, calma. Eu vou procurar te ajudar, mas pra isso você vai ter que me responder algumas perguntas.
HOMOSSEXUAL– Pois não, doutor. O senhor é um amorzinho!
MÉDICO – Algum trauma de infância?
HOMOSSEXUAL – Quando eu tinha meus quinze anos meu pai me chamou pra sair e me levou numa casa de mulheres. Quando eu vi onde eu estava comecei a suar frio, meu pai falou pra que eu escolhesse uma das meninas e eu escolhi qualquer uma. Nós fomos pro quarto e quando ela começou a me alisar eu vomitei em cima dela toda a dobradinha que eu tinha comido no almoço. Foi um horror, doutor! (Abre o berreiro)
MÉDICO – Mas você tem que superar esse trauma e procurar uma mulher que te dê carinho.
HOMOSSEXUAL – Mas doutor, recentemente eu sofri outro trauma.
MÉDICO – Como assim?
HOMOSSEXUAL – Eu sofri uma violência sexual! Ah doutor, foi um hor-ror!
MÉDICO – O quê? Pode me contar como aconteceu?
HOMOSSEXUAL – Ai, eu não gosto nem de lembrar! Eu estava na casa de uma amiga minha e fazia muito calor. Eu pedi para tomar um banho e ela perguntou se ela podia tomar banho comigo. Eu disse que sim, afinal da fruta que ela gosta eu como até o caroço. Tomamos banho juntos, quando eu vi ela estava me beijando, me agarrando. E o pior de tudo (Pausa) ela me violentou! Ai doutor foi Ter-rí-vel, fiquei uns três dias com febre!
MÉDICO – Então você admira as mulheres mas não consegue se relacionar com elas, não é isso?
HOMOSSEXUAL – Exatamente. Eu queria tanto ser uma pessoa normal, mas tenho pavor das mulheres, agora (pausa) quando eu vejo um garotão musculoso, (Suspira) eu fico louco. Principalmente aqueles tipo cafajeste. (Ofegante) Sabe doutor, eu a-do-ro ser humilhado na cama!
MÉDICO – Acho que você está com sorte. Tenho como curar seu problema.
HOMOSSEXUAL – Sério doutor?
MÉDICO – Seríssimno, tem uma paciente minha que vou atender depois de você, já deve estar na sala de espera. Tem o mesmo problema que você, somente que quer passar a gostar de homem.
HOMOSSEXUAL – Não entendi.
MÉDICO – Mas logo vai entender. (Levanta-se e vai até à porta do consultório) Teresão, pode entrar. (Teresão é uma sapatão que usa blusão e relógio cebolão)
TERESÃO – E aí doutor, que que o senhor manda.
MÉDICO – Eu vou lhe apresentar meu paciente.
TERESÃO – Tudo bem cara? (Aperta a mão da bicha com tanta força que ele grita e fica sacudindo a mão)
MÉDICO – Eu acho que tenho a solução para curar os dois ao mesmo tempo.
TERESÃO E HOMOSSEXUAL – Então fala doutor!
Médico – Os dois querem se interessar pelo sexo oposto e não conseguem. Então quem sabe vocês não se entendem? Afinal ele é um homem afeminado e você uma mulher masculinizada. Pois é, namorem e finja que ela é um homem e você é uma mulher.
HOMOSSEXUAL – Será que vai dar certo doutor?
MÉDICO – Não custa nada tentar.
TERESÃO – Gostei da idéia. (Para o homossexual) Vem cá minha gatinha, vem namorar com o papai aqui. (Tenta agarrar a bicha que se afasta)
TERESÃO – Não foge do papai não, minha gostosa. (Corre atrás da bicha)
HOMOSSEXUAL (Correndo desesperado) – Socorro! Alguém me ajuda!
(Teresão corre pelo palco atrás dele)
TERESÃO – Não faz charme minha gostosa. (Os dois saem de cena)
MÉDICO – Sejam felizes! (À parte) Nossa! O amor não é lindo?
(Jorge Eduardo Magalhães)