Nelson Tangerini em Niterói
Ainda neste ano será publicado o livro
Nestor Tangerini e o Café Paris, pelo qual tive a honra de fazer o prefácio. Confiram:
OS PARISIENSES DE NITERÓI
Quando ouvimos falar em Literatura Brasileira da década de 1920 lembramos logo da Semana de Arte Moderna realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e os demais jovens paulistas que tinham como finalidade colocar a cultura brasileira a par das vanguardas européias, ao mesmo tempo em que pregavam a consciência da realidade brasileira.
Nesta mesma década em Niterói, a então capital do estado do Rio de Janeiro, um grupo de poetas satíricos formado por Nestor Tangerini, Luiz Leitão, Renê de Descartes Medeiros, Luiz de Gonzaga, entre outros, reuniam-se, com frequência no extinto Café Paris para discutir literatura e declamar seus poemas, nome este que deu aos seus poetas freqüentadores a alcunha de “parisienses”.
Nestor Tangerini, paulista de Piracicaba, autor de revistas como O tabuleiro da baiana e Gol; caricaturista e poeta satírico podia ser visto constantemente com seus amigos no Café Paris para falar de literatura e fazer trovas e sonetos que tratavam do cotidiano. Satirizavam a si mesmos ou uns aos outros, os seus vícios, suas manias e nem na hora da morte deixavam de fazer troças com os companheiros – como o caso de Nestor Tangerini, que, ao saber do falecimento de Luiz Leitão, o maior poeta humorístico fluminense, em 1936, escreveu uma trova onde os vermes, ao receberem o corpo de Leitão sepultado, comemoravam ter cachaça. Exaltavam a bela Atalá, linda moça niteroiense que arrancava suspiros dos parisienses, faziam soneto-propaganda para as lojas da cidade e ainda satirizavam as senhoras casadas que se mostravam zangadas com rapazes galanteadores, mas acabavam dizendo o endereço de suas casas.
Embora escrevessem sonetos e, de forma geral, poemas com rimas e métricas lembrando claramente o estilo parnasiano, podemos considerar que os parisienses formavam uma espécie de Modernismo Fluminense ainda muito pouco conhecido e estudado pelo seleto meio acadêmico.
Neste livro, Nelson Tangerini, filho de Nestor, jornalista e professor de literatura, não faz só uma homenagem ao seu pai, mas ressuscita o Café Paris, que em janeiro de 1943 foi demolido para a construção da Avenida Amaral Peixoto, e todos os parisienses de Niterói, dando-lhes o destaque merecido nos cânones da Literatura Brasileira.
(Jorge Eduardo Magalhães – Escritor, professor de Literatura e mestrando pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Prefácio do livro NESTOR TANGERINI E O CAFÉ PARIS - NITERÓI, RJ, ANOS 1920.
DE NELSON TANGERINI, EDITORA NITPRESS, 2010.